domingo, 26 de setembro de 2010

Literatura de Cordel - uma visão lúdica e irreverente do nordeste brasileiro

A literatura de cordel é um tipo de poesia popular, originalmente oral, depois impressa em folhetos rústicos ilustrados com xilogravuras. Normalmente são expostos para venda pendurados em cordas ou cordéis, o que deu origem ao nome.
Com raízes de Portugal, que tinha a tradição de pendurar folhetos em barbantes, o hábito desembarcou no Brasil. Por aqui, a literatura de cordel é produção típica do Nordeste, em especial dos estados de Pernambuco, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Ceará.
Esse estilo literário tem o alfaiate paraibano Severino de Andrade Silva, nascido em Itabaiana em 1904 e falecido em 1965, como um de seus grandes expoentes e divulgadores. Zé da Luz (como assinava seus folhetos) que, apesar de ter vivido e falecido no RJ, nunca esqueceu suas origens nordestinas de homem criado no agreste paraibano. Escreveu sobre temas variados sendo, por vezes, trágico outras bem humorado ou safado. 
Um de seus principais folhetos intitula-se "AI! SE SÊSSE!..." e, segundo dizem, foi escrito para provocar aqueles que, contra a cultura popular, defendiam o uso do português-de-salão para expressar o sentimento dos poetas.
Então, sem mais delongas...

    
AI! SE SÊSSE!...
(Zé da Luz)

Se um dia nós se gostasse; 
Se um dia nós se queresse; 
Se nós dos se impariásse, 
Se juntinho nós dois vivesse! 
Se juntinho nós dois morasse 
Se juntinho nós dois drumisse; 
Se juntinho nós dois morresse! 
Se pro céu nós assubisse? 
Mas porém, se acontecesse 
qui São Pêdo não abrisse 
as portas do céu e fosse, 
te dizê quarqué toulíce? 
E se eu me arriminasse 
e tu cum insistisse, 
prá qui eu me arrezorvesse 
e a minha faca puxasse, 
e o buxo do céu furasse?... 
Tarvez qui nós dois ficasse 
tarvez qui nós dois caísse 
e o céu furado arriasse 
e as virge tôdas fugisse!!! 



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